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Sofre com gases? O que causa flatulência e como reduzi-la

21 Dez 2023 - 08:27

Sofre com gases? O que causa flatulência e como reduzi-la

Por ser socialmente reprovável, a flatulência tornou-se, para muitas pessoas, um tema tabu. No entanto, os gases intestinais resultam de um processo normal que ocorre durante o processo digestivo.

O que causa os gases? Há alimentos que os potenciam? Como reduzir o inchaço abdominal associado à flatulência? E quais as patologias associadas? As respostas estão neste artigo.

O que está na origem dos gases intestinais?

Os gases fazem “parte do nosso dia a dia”, começa por dizer Carlos Borges Chaves, gastroenterologista no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (a convite da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia). 

Resultam do processo de fermentação no intestino e são tão normais como a formação e dejeção de fezes. No entanto, uma quantidade exagerada de flatulência pode estar relacionada com algumas práticas e com o consumo de determinados alimentos, e torna-se, em alguns casos, desconfortável. 

“De uma forma simplista, os gases que se encontram no interior do nosso tubo digestivo surgem pela deglutição do ar (através do simples ato de comer e da deglutição da saliva que de forma natural produzimos) e pela fermentação dos alimentos que incluímos na nossa dieta pela nossa microbiota intestinal”, explica o gastroenterologista.

Parte do ar que é deglutido durante a ingestão de alimentos poderá ser libertado através do ato de arrotar. Porém, outra parte segue em conjunto com o bolo alimentar até ao intestino

No que toca à deglutição de ar, existem fatores que podem aumentar a flatulência, nomeadamente “o ato de fumar”, de “mascar pastilhas elásticas”, a “ingestão de bebidas gaseificadas e açucaradas” ou o ato de “comer rápido”.

A fermentação é responsável por três quartos dos gases produzidos no intestino. “O problema é quando a fermentação é muito exacerbada”, afirma o José Camolas, membro do Conselho Geral da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz

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Um excesso de flatulência pode estar relacionado com “um desequilíbrio da flora intestinal, ou seja, quando as “bactérias estão presentes em maior proporção e aumentam o processo de fermentação”, prossegue o nutricionista

Alguns alimentos (como, por exemplo, leguminosas, couves, cebola, aipo, cenoura, uvas, trigo, feijão, banana) também aumentam a fermentação no intestino, produzindo, assim, uma maior quantidade de gases.

Fatores como stress, más rotinas de sono e padrões irregulares de refeições podem também aumentar a flatulência.

Fazer refeições “à pressa” e ter uma dieta “mais desequilibrada” vai também “desequilibrar a flora intestinal”, lembra José Camolas, acrescentando que “o intestino é muito sensível ao estado emocional”. 

Como reduzir a flatulência?

Situações de flatulência exagerada podem ser muito desconfortáveis. Uma vez que os fatores que potenciam a formação de gases são conhecidos, os especialistas deixam alguns conselhos que podem ajudar a reduzir a flatulência.

Carlos Borges Chaves começa por sugerir a alteração de alguns comportamentos que podem estar associados à deglutição de ar, nomeadamente a evitar o tabaco, “pastilhas elásticas” e “bebidas gaseificadas e açucaradas” e passar a “comer devagar”.

A nível alimentar, José Camolas aconselha a fazer uma análise atenta dos ingredientes ingeridos antes dos períodos em que sente mais flatulência, por forma a procurar um padrão. 

Ao identificar um determinado alimento, poderá substituí-lo por outro que tenha “qualidade nutricional equivalente” ou iniciar um processo de “reintrodução” alimentar.

Este processo deve ser acompanhado por um nutricionista, uma vez que a exclusão sucessiva de alimentos poderá levar a uma dieta “monótona” e pouco interessante do ponto de vista nutricional.

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Mais ainda em pessoas com multipatologias, em que já existe uma restrição prévia de um conjunto de alimentos. “A determinado momento, as opções alimentares ficam muito limitadas”, alerta.

“Nem sempre o alimento tem de ser excluído. É preciso perceber qual o (pequeno) grupo de alimentos que tem de ser excluído, determinar os condicionais – que poderá ingerir em situações em que não há fator de stress e em que a mastigação pode ser mais lenta – e identificar os que são considerados ‘seguros’”, explica José Camolas.

Pode a flatulência estar associada a patologias?

Existem algumas patologias que podem estar relacionadas com um aumento de gases intestinais – tais como situações de prisão de ventre, colites, síndrome do intestino irritável, doença celíaca ou doença de crohn

Também o défice da enzima lactase (que origina a intolerância à lactose) ou a presença de sorbitol (uma fibra fermentada pela microbiota intestinal) nos alimentos podem potenciar o aparecimento de flatulência.

Contudo, na maior parte dos casos, a flatulência “dificilmente será devido a uma patologia orgânica”, afirma Carlos Borges Chaves.

 Se, a acompanhar o aumento de gases, identificar uma situação de “défice nutricional, anemia, emagrecimento involuntário, diarreia crónica (superior a três meses), sangue nas fezes ou dor abdominal importante”, deverá procurar ajuda médica.

Também José Camolas destaca a importância de fazer uma atuação conjunta entre médico e nutricionista, sendo o primeiro responsável pelo diagnóstico e o segundo por “reequilibrar a dieta, que terá impacto a manter o equilíbrio nutricional e a garantir um tratamento adequado após o diagnóstico”. 

A associação entre a retenção de gases e possíveis riscos para a saúde é também uma questão que se coloca. Por ser uma prática socialmente reprovável, muitas pessoas tendem a não libertar os gases. Terá esta prática riscos para a saúde?

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Carlos Borges Chaves afirma que essa prática “não acarreta nenhum risco importante” na saúde do indivíduo, mas reconhece que estar “várias horas sem libertar gases” pode tornar-se “desconfortável, doloroso”, causando uma “sensação de distensão e rigidez abdominal, sobretudo na região inferior”. 

Por forma a evitar esse desconforto, o gastroenterologista recomenda que procure uma casa de banho ou um espaço que considere “seguro”.

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21 Dez 2023 - 08:27

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